Professor Modelo
A MINHA CAMINHADA HISTÓRICA DA CAPOEIRA
Valdeson Paula Portela, instrutor (Modelo) assim, conhecido nas rodas de capoeira, nasci na capital de Mato Grosso, Cuiabá, sou filho de uma doméstica que trabalhou, incansavelmente, para sustentar quatro filhos, sendo eu o mais velho. Meu pai nos abandonou quando eu tinha oito anos e nunca mais tive contato com ele.
Eu tive uma infância difícil, menino pobre e rejeitado pela sociedade, à mercê da marginalidade, poderia ter sido terreno fértil à criminalidade. Porém, sempre pensei diferente dos meus amigos de infância, que só pensavam em destruir as coisas que não lhes pertenciam, bem como promover vandalismos na rua.
Diante da ausência de meus pais, ou de uma referência a seguir para viver em sociedade, minha conduta tornou-se talvez, socialmente, indevida e junto com estas indisciplinas veio a dificuldade de convivência no meu lar, por isso, inúmeras vezes, eu acabava indo morar com tias e avós, com a finalidade de auxiliar na formação da minha conduta e isso me deixava chateado, mesmo sabendo que eu era um menino difícil de conviver.
Acredito que as gozações, discriminações, rejeições na escola, na sociedade e no convívio entre parentes, por inúmeras vezes, contribuíram para tais reações e ações impróprias de minha parte para com as pessoas com as quais eu convivia. Sei que a ausência de atenção, carinho, afeto, respeito, valorização e dignidade foram fatores que também contribuíram, visto que estes sentimentos eu só pude encontrar com reciprocidade aos meus 14 de idade em 1994, quando passei a treinar a capoeira com o mestre: Lindomar de Barros no SESC Porto em Cuiabá com o grupo Kizomba de capoeira angola, que na sua ausência assumiu os trabalhos o professor: Paulo Henrique Pereira.
A partir da minha inclusão na capoeira no grupo Kizomba ocorreu uma grande mudança em minha vida, minha realidade, meu pensar, meu agir e a forma de ver a vida. Antes, eu era um menino revoltado com a realidade que me cercava realidade esta, revertida depois de encontrar a capoeira.
Somente ao longo dos anos, treinando e me dedicando à capoeira é que obtive a valorização enquanto ser humano e que consegui vislumbrar o respeito que sempre almejei na infância. Como tudo na vida precisamos passar por uma constante transformação, resolvemos afiliar-se ao grupo Abada capoeira que era comandado pelo professor: Careca (Romualdo da silva) as aulas era ministrado no CEfET, com saída do professor Careca para cidade de Jataí em Goiás ficamos sem suporte necessário para continuarmos nossos trabalhos voltados aos projetos sociais. Devido a isso só Ficamos em torno de quatro anos no grupo Abada capoeira.
Nesse período sem grupo de capoeira o mestre Démetrius Pereira dos Santos nos ofereceu a proposta de filiar-se no grupo de capoeira Capuraginga onde tinha como presidente mestre Loka que residia no USA, nós se afiliamos em meados de 2000.
Em 2001, recebi a proposta de ensinar capoeira no projeto chamado LBA na cidade de Juara/ MT. Nesta época, eu já ministrava aulas de capoeira para alunos do ensino fundamental na escola centro de ensino unificado (CEU), bairro Carumbé em Cuiabá e na escola Centro de Ensino Paiguas (CEP), no bairro CPA quatro.
Portanto no segundo semestre de 2001, aceitei vim para Juara lecionar aulas de capoeira no projeto LBA.
Hoje, já faz 12 anos que estou na região do Vale do Arinos desenvolvendo trabalhos com a capoeira, já trabalhei e trabalho em inúmeros projetos sociais como: projeto Aplauso, projeto iniciação esportiva, projeto Pet, pro - jovem, projeto da Terceira Idade Viver bem e projeto arte na universidade. Ao longo dos anos trabalhando nos projetos sociais percebo, devido aos conhecimentos que adquiri com os tempos, estudando e pesquisando a respeito do desenvolvimento do ser humano, que me sinto mais preparado para desenvolver trabalhos em projetos sociais, levando conhecimentos nobres dessa arte: a Capoeira, que quando desenvolvida com crianças, adolescentes e pessoas da melhor idade, numa perspectiva educativa e social, produz cidadãos mais críticos e conscientes de que a educação não se oferece apenas na escola, mas também em ambientes não escolares.
Vejo hoje, nos alunos com os quais trabalho em projetos sociais, o reconhecimento deles perante a sociedade, como sujeitos históricos, capazes de interagir na sociedade em que estão inseridos. É por isso que a capoeira na educação precisa ser desenvolvida com uma pedagogia dos movimentos. A capoeira como um momento interdisciplinar, enquanto recurso de ensino e aprendizagem, que contempla a importância social, histórica e física da criança.
Durante os últimos 12 anos, tenho me dedicado ao ensino da capoeira em projetos sociais e escolas, com a experiência percebi que a capoeira pode ser vista e vivida como um poderoso instrumento no processo educacional, interferindo na vida da escola e influenciando positivamente no cotidiano da educação dos alunos.
Sabemos que cada um educa de acordo com o que acredita. Somos educados por nossos pais, familiares, amigos, professores e pela vida, mas acima de tudo, somos educados por nós mesmos.
Nessa ótica, acredito que o processo educativo é um processo de auto-descoberta, no qual o educador auxilia e incentiva o educando a descobrir seus próprios potenciais e suas próprias habilidades.
Meu trabalho com a capoeira na cidade de Juara hoje tem como supervisão o mestrando Bicudo (Ludionei Fiorentim) discípulo de mestre Démetrius, que trabalha incansavelmente com a capoeira no grupo Centro Cultural Aruandê que é uma nova identidade do antigo grupo de capoeira Capuraginga.